As doenças ocupacionais em médicos veterinários podem atingi-los, independente de sua área de atuação.

E, para mostrar a importância desse assunto, pesquisadores britânicos relataram que médicos veterinários estão sujeitos duas vezes mais a doenças de trabalho que outros profissionais da saúde.

Continue lendo e descubra quais são os principais riscos ocupacionais para o médico veterinário, e o que é preciso para prevenir doenças e acidentes de trabalho.

 

Quais são as principais doenças ocupacionais em médicos veterinários e outros profissionais da área?

Ao trabalhar em contato direto com o exame e manipulação de animais ou seus agentes biológicos, médicos e profissionais veterinários estão sujeitos a várias categorias de riscos que podem variar de acordo com sua área de atuação.

De modo geral, as doenças ocupacionais em veterinários se enquadram em exposição a riscos físicos, químicos e ionizantes, doenças zoonóticas e acidentes de trabalho.

Diferentes fatores de risco devem ser observados, porque eles podem contribuir para o grau de complexidade das doenças.

Acidentes de trabalho e doenças zoonóticas são comuns. Além disso, é possível discriminar as condições de riscos físicos, químicos, biológicos, ergonômicos, mecânicos, elétricos, ion izantes e psicossociais. Veja mais informações sobre cada um deles abaixo.

 

1 – Riscos físicos

Esses fatores se aplicam principalmente onde não há estrutura de trabalho saudável. Por exemplo

  • Exposição a temperaturas ambientais muito altas ou muito baixas, como trabalhos em áreas rurais, reservas ou abatedouros;
  • Atuação em locais não ventilados;
  • Exposição a radiações ionizantes, como raios-X, iodo-125, carbono-14
  • Contato com radiações não ionizantes, como infravermelho, ultravioleta, laser e luz de micro-ondas;
  • Convívio com vibração e ruído constante;
  • Trabalhar com níveis de iluminação insuficientes.

 

2 – Riscos químicos

Esse tipo de risco se relaciona com a manipulação de diversas substâncias químicas e a administração de medicamentos. Como, por exemplo:

  • uso de gases anestésicos, como o halotano, ou isoflurano e o sevoflurano;
  • Exposição a citotóxicospor inalação, ingestão, injeção acidental, absorção pela mucosa ou pelas secreções excretadas pelos pacientes após a administração destes fármacos.

 

3 – Riscos biológicos

Se classificam nesse critério as infecções causadas por microrganismos devido ao manuseio de fluidos biológicos, como sangue e urina.

  • Doenças zoonóticas, sendo aquelas que podem ser transmitidas de animais para humanos;
  • Lesões perfurocortantesque aumentam a exposição a doenças infecciosas e posterior transmissão pelo sangue.

 

4 – Riscos ergonômicos que podem causar doenças ocupacionais em veterinários

Comum em várias profissões, os riscos ergonômicos dizem respeito a distúrbios musculoesqueléticos ocasionados por movimentos repetitivos, má postura e esforço excessivo. Entre esses riscos encontram-se situações de:

  • Dor;
  • Desconforto;
  • Perda de produtividade;
  • Perda de qualidade de vida;
  • Estresse físico e fadiga
  • Perda financeira.

 

5 – Riscos mecânicos

Ao se depararem com instalações inadequadas ou malconservadas, espaços impróprios ao exercício da função, ou ainda, ferramentas inapropriadas, pode configurar situação de perigo ao trabalhador. Isso pode levar a riscos mecânicos que acarretem doenças ocupacionais em médicos veterinários. Eles podem ser:

  • Cortes;
  • Esmagamento;
  • Perfuração;
  • Picadas;
  • Mordeduras;
  • Arranhões;
  • Choque;
  • Coices;
  • Chifradas;
  • Abrasão;
  • Projeção de objetos.

 

Outro fator de perigo é o uso inadequado de equipamentos ou maquinários e o armazenamento incorreto de materiais.

 

6 – Riscos elétricos

É comum que médicos veterinários manipulem equipamentos elétricos para exames de imagem, como ultrassom, centrífuga, autoclave, bisturi elétrico, e estufa. Com isso, os profissionais ficam expostos à eletricidade estática que pode ocasionar

  • Choques;
  • Queimaduras de leves a graves;
  • Morte por eletrocussão.

 

 7 – Riscos psicossociais

Dados do Sistema de Informação de Mortalidade do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (Datasus) mostraram que, entre 1980 e 2007, a maior taxa média de suicídio por ocupação e risco ocupacional estava entre os médicos veterinários, sendo 225% maiores do que outras ocupações. Constavam nestes dados:

  • Estresse resultante das exigências do trabalho e dos plantões;
  • Sentimento de desvalorização profissional;
  • Esgotamento emocional diante de situações de luto próprio e dos tutores;
  • Exigência física e emocional dada aos atendimentos emergenciais;
  • Práticas constantes de eutanásia;
  • Depressão;
  • Burnout.

 

8 – Doenças zoonóticas ocupacionais

Os perigos de doenças ocupacionais em veterinários resultantes de zoonoses ocorrem devido ao contato frequente com agentes biológicos dos animais, como sangue, vísceras, tecidos fetais e placentários, fezes e urina. As doenças mais comuns relatadas na literatura são:

  • Dermatofitose;
  • Psitacose;
  • Brucelose humana;
  • Leptospirose;
  • Salmonelose;
  • Toxoplasmose;
  • Tuberculose bovina;

 

O risco de infecção zoonótica pode ser reduzido pelo diagnóstico precoce e manejo adequado dos animais afetados. E ainda, tomada de precauções básicas de biossegurança para todos os trabalhadores expostos.

 

9 – Acidentes de trabalho

Um levantamento realizado na Universidade Federal Rural do Semiárido relatou que as principais causas de acidentes envolvendo médicos veterinários relacionam-se com riscos mecânicos, biológicos, químicos e físicos.

Esses acidentes ocorrem devido a:

  • Exposições constantes a materiais cortantes, mordidas, arranhões, chutes, coices;
  • Manipulação de medicamentos;
  • Manejo dos animais;
  • Contato a radiação para contenção de animais durante exames;
  • Interação desprotegida com secreções contaminadas;
  • Lesões ergonômicas (posturais).

Para minimizar ou até mesmo eliminar os riscos, doenças e acidentes, é recomendado que profissionais, clínicas e hospitais veterinários sigam as disposições legais que tratam da segurança no trabalho. Também é fundamental conhecer e seguir as normas de biossegurança.

 

O que é biossegurança na medicina veterinária?

A biossegurança é algo indispensável na medicina veterinária. Envolve, por exemplo, a segurança e o bem-estar da população, de clientes, dos profissionais, da equipe, da coletividade, do ambiente e dos pacientes.

Medidas de biossegurança englobam um conjunto de procedimentos, técnicas e dispositivos que visam evitar riscos físicos, biológicos, ergonômicos, químicos e psicológicos. Entre as diversas categorias de riscos há diferentes formas de controle, por isso é preciso conhecê-los e aprender como mitigá-los.

A biossegurança também assegura as responsabilidades atribuídas aos veterinários, responsáveis técnicos, ambientes veterinários e estabelecimentos que manipulam animais ou produtos derivados.

A biossegurança tem, ainda, a relevância de educar, treinar e a atualizar sobre as técnicas de segurança nos ambientes de trabalho. A informação é uma importante aliada para combater as doenças ocupacionais em veterinários.

 

Quais são os fatores de biossegurança em uma clínica veterinária?

Cada ambiente veterinário tem riscos. Mas eles podem ser minimizados ou evitados com boas práticas de biossegurança, o que envolve:

  • Análise de riscos;
  • Uso de equipamentos de segurança EPI (equipamento de proteção individual) e EPC (equipamento de proteção coletiva);
  • Técnicas e práticas em laboratórios;
  • Estrutura física de ambientes de trabalho;
  • Descarte apropriado de resíduos;
  • Gestão administrativa dos locais de trabalho e da saúde dos trabalhadores.

 

A biossegurança em clínicas médicas veterinárias atua na prevenção de acidentes e riscos, na segurança do ambiente e dos profissionais envolvidos. Além de ser fundamental para a prevenção das doenças ocupacionais em veterinários e sua equipe.

A aplicação do cumprimento das normas de biossegurança decorre da existência de regulamentações e ações que trazem orientações sobre o tema. Ela envolve também políticas institucionais eficazes, adequação da infraestrutura disponível e disponibilidade de equipamentos de proteção individual (EPI) e coletivo (EPC).

A análise dos riscos é um fator essencial da biossegurança. Sem pensar nos riscos, não é possível estabelecer medidas de segurança adequadas para a clínica veterinária.

As práticas de biossegurança são regulamentadas pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), Resoluções da Agência Nacional de Vigilância em Saúde (ANVISA), e pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA). Além disso, é importante conhecer e aplicar as Normas Regulamentadoras (NR’s), incluindo as do CFMV e CRMVs.

 

O que são e quais são as NRs ao serviço do médico veterinário?

As Normas Regulamentadoras (NRs) foram estabelecidas em 8 de junho de 1978, e existem para oferecer melhorias e conforto no ambiente de trabalho. Elas abrangem diferentes áreas e ocupações e complementam a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).

As NRs são obrigatórias tanto em empresas privadas quanto órgãos públicos que tenham empregados regidos pela CLT. E é o Ministério do Trabalho e Emprego que controla as NRs.

Como as essas normas abrangem todas as áreas e ocupações, as que dizem respeito ao serviço médico veterinário enquadram-se nas seguintes NRs:

  • NR-5– Prevê a criação de uma comissão interna a prevenção de acidentes;
  • NR-6– Rege sobre o uso de equipamentos de proteção individual (EPI);
  • NR-7– Preconiza o programa de controle médico e de saúde ocupacional;
  • NR-9– Determina a avaliação e controle das exposições ocupacionais a agentes físicos, químicos e biológicos;
  • NR-17 – Trata da ergonomia do ambiente de trabalho;
  • NR-32– Norteia sobre a segurança e saúde no trabalho em serviços de saúde.

 

É muito importante saber quais são as Normas Regulamentadoras do trabalho. O desconhecimento das NRs acarreta posição de risco à saúde individual e coletiva, além de colaborar para o aumento das doenças ocupacionais em veterinários.

 

Quais são as medidas de segurança de trabalho essenciais as clínicas e hospitais veterinárias?

Um estudo de caso realizado em um hospital veterinário do Rio Grande do Sul constatou que muitos profissionais desconheciam a NR-32, além de não receberem treinamento inicial ou permanente em acidentes de trabalho na prática veterinária.

Como resultado, os entrevistados não souberam registrar as doenças ocupacionais, consequentemente, os casos de acidentes de trabalho foram subnotificados. Além disso, a pesquisa constatou que o uso de equipamentos de proteção individual e precauções de segurança foi inferior ao recomendado.

Para ficar bem longe de situações como essas, confira 5 práticas essenciais de boas medidas de segurança do trabalho em clínicas e hospitais veterinários.

 

1 – Conheça as NRs e práticas de biossegurança

A primeira medida de segurança do trabalho é conhecer as Normas Regulamentadoras e os fatores de biossegurança. Perante a lei, não se pode alegar  desconhecimento.

 

2 – Identifique os riscos

Em seguida, conheça o ambiente de trabalho e os riscos do exercício ocupacional. Isso envolve a detecção de patógenos causadores de doenças aos quais os veterinários estão expostos em sua prática profissional.

 

3 – Use EPI’s e EPC’s para prevenir as doenças ocupacionais em veterinários

As normas regulamentadoras determinam condições de trabalho seguras por meio do uso de equipamentos de proteção individual (EPI) e de equipamentos de proteção coletiva (EPC).

Elas também observam que os empregadores são obrigados a fornecer equipamentos de proteção individual e os funcionários são responsáveis ​​pelo cumprimento de seu uso correto.

 

4 – Realize exames

Os exames admissionais e demissionais são realizados para garantir que o funcionário deixe a empresa da mesma forma que foi contratado.

Ainda é importante realizar inspeções regulares anualmente e exames de retorno ao trabalho no primeiro dia após o afastamento igual ou superior a 30 dias. Estes exames médicos devem ser da responsabilidade do empregador

 

5 – Comunique os acidentes de trabalho

Em caso de acidente de trabalho em sua clínica ou hospital, o médico veterinário responsável é encarregado de notificar à Previdência Social o Comunicado de Acidente de Trabalho (CAT), o que deve ser feito até o primeiro dia útil após o acidente, independentemente dos envolvidos estarem afastados das atividades de trabalho.

 

Considerações finais

Os veterinários desempenham um papel vital para a saúde pública, pois são responsáveis ​​por manter os animais saudáveis ​​e prevenir a propagação de doenças para os seres humanos.

Como profissionais fundamentais para a sociedade, veterinários devem ter seus direitos à saúde e segurança no ambiente de trabalho garantidos por seus empregadores. Logo, também precisam fazer sua parte para se protegerem e evitarem doenças ocupacionais.

Os EPI’s são essenciais para auxiliar na prevenção das doenças ocupacionais em veterinários. Confira quais são os principais equipamentos que devem ser utilizados por esses profissionais: clique aqui!

 

Revisão Científica:

Prof. Dr. Marco Antonio Gioso

CRMV-SP: 5642

Professor livre-docente da Universidade de São Paulo.

Compartilhe esta notícia

Deixe uma resposta