A doença, adquirida como resultado de cirurgia ou hospitalização, é chamada de infecção hospitalar (IH) ou nosocomial. As infecções hospitalares são bastante comuns em instituições para pacientes humanos e também no centro cirúrgico veterinário e de internação.

Os animais são infectados pela exposição a agentes infecciosos durante procedimentos invasivos, como intervenções cirúrgicas, uso de dispositivos intravasculares, cateteres e colocação de implantes.

Essas infecções contraídas na sala de cirurgia ou internação podem levar a problemas além do paciente acometido, pois têm o potencial de se espalhar para outros animais internados, comprometer o funcionamento do hospital ou clínica veterinária, podendo até se tornar patógenos zoonóticos, que se espalham de animais para humanos.

Outro problema que as infecções hospitalares podem causar é o impacto negativo na imagem da instituição e da confiança que os clientes têm nos profissionais que lá trabalham.

Pensando nisso, reunimos neste artigo tudo o que você precisa saber para ter um centro cirúrgico veterinário totalmente equipado e seguro em relação a assepsia e antissepsia. Confira!

 

Qual a importância dos processos de assepsia do centro cirúrgico veterinário para o sucesso do procedimento?

O método asséptico engloba todos os procedimentos utilizados para evitar a contaminação de objetos, instrumentos, equipamentos (fômites) e a antissepsia, o mesmo para seres vivos, superfícies corporais, seja do paciente ou equipe, para que estes não se infectem.

A localização e o layout de um centro cirúrgico é uma parte fundamental de sua eficácia na prestação de cuidados. Recursos estruturais, como mesas giratórias, pias próximas e lixeiras são partes muito importantes da preparação do ambiente cirúrgico.

Os objetivos da sala de cirurgia são, em primeiro lugar, a segurança do paciente e a máxima eficiência operacional. Suas instalações e equipamentos devem ser projetados para evitar ou reduzir a incidência de contaminação e infecções.

Os ambientes de circulação de um centro cirúrgico devem ser divididos em três áreas: limpa, mista e contaminada.

  • Área limpa: salas cirúrgicas, sala de paramentação, salas de materiais esterilizados;
  • Área mista:corredores entre as salas do centro cirúrgico, área de processamento de instrumentos e suprimentos, salas de serviços;
  • Área contaminada:área de recepção do paciente e vestiários.

Essas diversas instalações, cada uma com sua localização e funções específicas, servem para prevenir a ocorrência de contaminação e infecção em um centro cirúrgico veterinário.

 

Quais são os equipamentos indispensáveis para um centro cirúrgico veterinário?

Em 2019, o Conselho Federal de Medicina Veterinária publicou a resolução 1275, que estabeleceu os critérios mínimos para salas cirúrgicas em estabelecimentos veterinários:

  1. Mesa cirúrgica impermeável;
  2. Equipamentos para anestesia;
  3. Sistema de iluminação emergencial própria;
  4. Foco cirúrgico;
  5. Instrumental para cirurgia em qualidade e quantidade adequadas à rotina (pinças, porta-agulhas, cabos e lâminas de bisturis, tesouras e bandejas);
  6. Mesa auxiliar;
  7. Paredes e pisos de fácil higienização;
  8. Provisão de oxigênio;
  9. Sistema de aquecimento para o paciente;
  10. Equipamentos para intubação e suporte ventilatório;
  11. Equipamentos de monitoração com, no mínimo, temperatura, oximetria, pressão arterial e frequência cardíaca.

Além disso, a mesma resolução aponta a necessidade de um centro cirúrgico conter um ambiente para o preparo do paciente e outro para a sua recuperação, com a provisão adequada de oxigênio e sistema de aquecimento.

A resolução também determina que o ambiente de antissepsia e paramentação deve conter pia e “dispenser” de detergente com acionáveis que não exijam contato das mãos.

E, por fim, a sala de lavagem e esterilização de materiais deve ter equipamentos para lavagem, secagem e esterilização de materiais por autoclavagem (esterilização por exposição a vapores e altas temperaturas).

Seguindo essas orientações, você terá em seu hospital ou clínica um centro cirúrgico veterinário seguro para os profissionais e para os animais em atendimento.

 

Quais são as normas da Anvisa para o centro cirúrgico veterinário?

Em 2010, no Brasil, a Anvisa publicou a Referência Técnica para o Funcionamento dos Serviços Veterinários.

O documento orienta como as equipes devem atuar com foco voltado, principalmente, para a Saúde Humana (trabalhadores, clientes, população). Entre as orientações estão relacionados:

  • Análise e controle de riscos e agravos à saúdedo trabalhador, conforme PPRA (programa de prevenção para riscos ambientais), PCMSO (programa de controle médico de saúde ocupacional), fiscalização de procedimentos e processos, estrutura e equipamentos, bem como substâncias que possam afetar a saúde dos trabalhadores.
  • limpeza e higiene do localem questão, para manter os trabalhadores seguros e garantir seu bem-estar.
  • Equipes de Vigilância Sanitária devem inspecionar a exposição à radiaçãoionizante em locais que possuem equipamentos de raios-X.
  • Obedecer à Norma Regulamentadora 32do Ministério do Trabalho e Emprego, além de outras normas destinadas a proteger a saúde dos trabalhadores.
  • Conferir junto ao Ministério da Saúde o registro de determinados medicamentos de linha humanaque os profissionais médicos veterinários podem utilizar.
  • Respeitar o Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos e de Saúde, que trata do armazenamento e descarte seguro de materiais e resíduos contaminados, bem como o fornecimento de água adequada. Este plano protege o meio ambiente e os trabalhadores.

Essas orientações devem se estender a toda a clínica ou hospital veterinário, sendo fundamental seu conhecimento para a estruturação adequada dos espaços cirúrgicos.

 

O que é preciso para manter o centro cirúrgico veterinário seguro?

A infecção em um centro cirúrgico veterinário é multifatorial. Em um ambiente hospitalar, até mesmo a água, o ar e as superfícies podem se relacionar com contaminações, por serem focos de contato e transmissão de agentes patógenos.

A sala, a mesa cirúrgica e as mãos dos médicos e auxiliares também influenciam no contágio de doenças. Por isso, certas práticas precisam ser adotadas rigorosamente e de maneira rotineira, sistematizada, para manter o ambiente seguro:

  • Limpeza de unidade: espaços, móveis, utensílios, leitos;
  • Lavagem das mãos;
  • Antissepsia da pele do cirurgião e do paciente;
  • Colocação de luvas no centro cirúrgico;
  • Restrição do acesso de pessoas à sala cirúrgica;
  • Vigilância de trânsito e fluxo de pessoas e suprimentos;
  • Monitoramento do sistema de ventilação;
  • Supervisão da movimentação das portas;
  • Uso adequado de paramentação da equipe cirúrgica e auxiliares;
  • Cuidados no manejo do paciente;
  • Controle de pragas: insetos voadores e formigas.

Usar as ferramentas adequadas para a cirurgia veterinária é uma maneira importante de prevenir a contaminação e infecção.

Para a limpeza são indicados produtos de ação germicida e bactericida, com princípios ativos fenólicos, compostos orgânicos e inorgânicos que liberam cloro ativo, quaternários de amônia, álcoois, entre outros.

A profilaxia é a maior aliada na prevenção e no controle de infecções. Um fato curioso é que estudos identificaram formigas como agentes de transmissão. Por isso, com a dedetização adequada, esses vetores podem ser eliminados.

 

Quais são os instrumentos cirúrgicos essenciais para as cirurgias veterinárias?

Todo procedimento cirúrgico requer um curso de ação. Portanto, os profissionais devem saber abordar e manusear de forma adequada os pacientes e utilizar corretamente os instrumentos e insumos.

Entre os vários instrumentos que podem ser necessários para a cirurgia, alguns são essenciais:

  • Cabos e lâminas de bisturis: para incisões e cortes precisos;
  • Tesouras: para corte e divisão tecidual
  • Metzenbaum:tesoura para diérese e divisão de tecidos delicados
  • Mayo:tesoura mais robusta e resistente, para tecidos mais densos
  • Pinças de dissecção: manuseiam e seguram parte do tecido para permitir a ação de outros instrumentos;
  • Pinças hemostáticas não traumáticas:mais precisas e usadas para o estancamento de vasos menores, minimizam o trauma vascular
  • Pinças hemostáticas traumáticas: bloqueiam lesões vasculares para interromper sangramentos e hemorragia
  • Porta-agulhas: auxiliam na fixação da agulha durante a sutura
  • Afastadores:afasta a pele, músculos e tecidos em geral para visão da área necessária
  • Material de síntese: utilizados para a união e sutura dos tecidos. Fios de sutura, pinos, placas, parafusos, próteses, fios, hastes, grampeadores etc.
  • Instrumentos específicos à cada especialidade.

Cada instrumento deve ser adequadamente esterilizado e armazenado para evitar a contaminação cruzada entre os diferentes procedimentos dentro do centro cirúrgico veterinário, além de preservar o material ao longo do tempo.

 

Por que é importante o uso de vestimentas descartáveis nos procedimentos cirúrgicos em animais?

Os métodos de assepsia rigorosos empregados na medicina veterinária resultaram em procedimentos cada vez mais bem-sucedidos. As roupas cirúrgicas são parte essencial dos cuidados com a segurança.

Portanto, roupas descartáveis ​​como máscaras, gorros, aventais e propé (capas de sapato) tornaram-se uma necessidade básica para evitar a propagação de patógenos. Eles evitam a transmissão da doença de um veterinário para um animal, ou de um paciente para o profissional que o trata. Esses EPI’s de uso único evitam o contato direto com fluidos infectados e são importantes para a biossegurançaQuando usados ​​corretamente e descartados com segurança, imediatamente após cada uso, são altamente eficazes na prevenção de doenças hospitalares e zoonóticas.

Outro benefício de vestimentas descartáveis é sua origem totalmente estéril.

 

Quais são as vestimentas descartáveis ou EPI’s indispensáveis nos centros cirúrgicos veterinários?

Apenas na década de 1960 que o uso de gorros, luvas, máscaras e vestes passaram a ser adotados de forma sistemática nas cirurgias veterinárias. Hoje, os Equipamentos de Proteção Individual (EPI’s) são bem conhecidos e amplamente utilizados.

Manual de Biossegurança em Medicina Veterinária indica os principais equipamentos de segurança para serem utilizados em centros cirúrgicos veterinários:

 

1- Aventais impermeáveis e de mangas longas para utilização no centro cirúrgico veterinário

A vestimenta que se usa mesmo sem ser cirurgião deve ser específica, e nunca a roupa que se utiliza fora do centro cirúrgico. Há vestimentas apropriadas (como pijamas) para se vestir ao entrar no ambiente cirúrgico.

Evitam a contaminação cruzada, poluição do ambiente estéril e previnem a exposição a fluídos biológicos e químicos. Esses aventais evitam o contato com agentes infecciosos e a contaminação do paciente.

 

2 – Máscaras cirúrgicas

As máscaras devem ser usadas para proteger a mucosa oral e as vias respiratórias. Elas são necessárias durante procedimentos que envolvem produtos químicos, ou quando sangue ou outros fluidos corporais podem ser inalados ou respingados nas vias aéreas.

A máscara utilizada deve fornecer proteção adequada para o tipo de exposição. Em geral, uma proteção facial tripla é recomendada. As máscaras N100, N95 ou N99 devem ser usadas para tratar pacientes com doenças infecciosas zoonóticas.

 

3 – Óculos de segurança

É indicado para atividades que geram respingos, aerossóis, detritos ou quebra de material. Também são recomendados em procedimentos que utilizam luz forte e magnética, ou outros produtos químicos, situações de riscos físicos ou biológicos.

Este EPI pode ser reutilizado se sua estrutura for preservada. Para isso, lave-os com água e sabão ou desinfete-os com solução de hipoclorito a 0,1%.

 

4 – Jalecos

Além de prevenir a contaminação por exposição a agentes biológicos e químicos, eles também devem ser usados ​​para proteger roupas e pele. Para atividades diárias de trabalho, pode ser feito de algodão ou materiais sintéticos. No entanto, é importante observar que os revestimentos de TNT devem ser retirados ​​imediatamente após o uso e descartados adequadamente.

Os jalecos (aventais) que se utilizam em consultas e outros procedimentos não invasivos, dentro da internação, não devem ser utilizados no ambiente cirúrgico.

 

5 – Luvas cirúrgicas e de procedimentos

As luvas devem ser usadas para proteger a pele, as mãos e os antebraços contra materiais biológicos ao cuidar e manusear instrumentos ou superfícies. É necessário um par de luvas por paciente, que é descartado após o uso.

O uso das luvas não elimina a necessidade de lavar as mãos. Elas podem ficar contaminadas quando são rasgadas durante o uso ou têm furos invisíveis. Por isso, a higienização das mãos deve ser realizada antes e após o uso das luvas, pois a umidade do ambiente pode contaminar as mãos.

 

6 – Toucas ou gorros

Cabelos são grandes agentes de contaminação. Gorros também são indicados para proteger contra respingos e aerossóis. Os cabelos devem estar presos e o gorro deve cobrir todo o cabelo e as orelhas.

 

7 – Calçados fechados

Seu uso é obrigatório em todo o ambiente veterinário. Deve ser fechado,  como  tênis e proteger todo o pé.

 

8 – Propé em TNT

É um equipamento de proteção para calçados para ser usado no centro cirúrgico e no centro de material esterilizado e internação. Ele tem a função de vedar o solado, impedindo que sujeiras sejam trazidas para o ambiente cirúrgico, evitando a contaminação.

 

Considerações finais

Manter o centro cirúrgico veterinário seguro para prevenir infecções para o paciente e equipe é essencial para garantir a qualidade dos serviços que são prestados.

Por isso, é essencial seguir as boas práticas listadas ao decorrer desse artigo, como o uso dos EPI’s, de forma sistematizada, com processos diretamente analisados pela equipe e aplicados de forma rotineira.

 

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Revisão Científica:

Prof. Dr. Marco A. Gioso

Livre-docente da FMVZ-USP

Professor de Técnica Cirúrgica e Profilaxia da Infecção.

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2 Comentários

  1. […] que trabalham no centro cirúrgico devem usar touca, que precisa ser confortável e durável. O gorro deve cobrir todos os […]

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